Imaginem o que é ver o vosso desportista favorito jogar no vosso bairro. Longe do epicentro caótico de Manhattan, em Harlem, está um campo de jogos igual a qualquer outro não fosse o facto de este ser palco não só para jogadores amadores mas para os mais extraordinários profissionais do basketball.
Estrelas como Michael Jordan, Kobe Bryant, Kevin Durant, ou Julius Irving jogaram perante um público heterogénio – anónimos e muitos famosos dos quais se destacam: Bill Clinton, Denzel Washington, Beyonce, Jay Z, ou Rihanna.
Depois de alguns minutos a jogar no court, tive a oportunidade de me sentar nas bancadas e falar com um rapaz que se aproximou. Contou-me um pouco sobre o bairro, sobre onde ele vivia (numa das “Polo Ground Towers” que olham de cima o campo de jogos) e sobre o que fazia (canta e produz rap, produz, filma e edita os seus videoclips).
“Há crianças que passam aqui todo o dia. É importante que elas encontrem algo para fazer para um dia sair daqui e ver o mundo” recordo-me de Meta Mike dizer. Quando lhe perguntei para onde ele gostaria de ir ele respondeu que Espanha era um bom sítio e o Egipto também – “tenho tanta gente do Egipto que me segue no Twitter, gostava de ir lá”. No entanto ele diz que voltaria sempre para Harlem. É ali que aprendeu tudo o que sabe.
Estive para sair de Nova Iorque sem visitar o Harlem. Fiquei satisfeito por o ter feito. Sítios como este relembram-me algo dito por Kalaf sobre o facto das mudanças criativas nascerem sempre de fora para dentro da cidade – ou como Jaz-Z canta sobre o seu percurso “from Marcy to Madison Square”.
Nova Iorque é um “mosaico de episódios” que se estende por mais de 2000 quarteirões, e esta é uma dessas partes. É também parte do dia-a-dia das crianças e jovens que vivem nos bairros sociais que estão próximos de Rucker Park. E seja em Harlem, Bronx ou Brooklyn não se pode dizer que há sítios mais felizes que outros. “As pessoas podem ser miseráveis e extáticas em qualquer sítio. Cada vez mais penso que a arquitectura tem cada vez menos a ver com isso. Claro que isso pode ser libertador e alarmante” (Rem Koolhaas).